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Pré-História e nacional-socialismo na Alemanha

Um ensaio biográfico sobre o arqueólogo Karl Hermann Jacob-Friesen

by Wolfgang Döpcke (Author)
©2015 Monographs XVIII, 206 Pages
Series: Estudos Germânicos, Volume 1

Summary

Na Alemanha do nacional-socialismo, a ciência da Arqueologia Pré-Histórica alcançou uma posição de altíssima relevância no contexto de legitimação ideológica do regime nazista. Propagava-se uma interdependência entre a «grandeza germânica» do passado pré-histórico e a superioridade das «raças nórdicas» no mundo contemporâneo. Os arqueólogos e os pré-historiadores, nas universidades e nos museus, muito contribuíram para a criação dessa imagem nacional-socialista do passado e, em contrapartida, muito se beneficiaram com a valorização de sua ciência pelo Estado.
A subjugação e o alinhamento ideológico e institucional da Pré-História pelo nacionalsocialismo foram, no entanto, fragmentários. O protagonista deste livro, o pré-historiador Karl Hermann Jacob-Friesen (1886–1960), diretor do Museu Provincial de Hanôver, entrou em choque com representantes influentes do regime nazista por defender uma ciência mais positivista contra os ideólogos. Apesar desses conflitos, Jacob-Friesen era adepto do nacional-socialismo e pôs sua ciência e seu conhecimento à disposição do regime. Ele adaptou as suas ideias, a sua linguagem e a mensagem política das suas publicações ao projeto ideológico do regime.
Este livro conjuga o estudo biográfico sobre Karl Hermann Jacob-Friesen com a história das ideias e da ciência na Alemanha no século XX. Aponta, assim, o papel-chave da ciência histórica da Arqueologia Pré-Histórica no surgimento das ideias radicais do nacionalismo étnico e racial, e destaca a identificação das elites intelectuais conservadoras com o regime nacional-socialista.

Table Of Contents

  • Cover
  • Título
  • Copyright
  • Sobre o autor
  • Sobre o livro
  • Este eBook pode ser citado
  • Sumário
  • Prefácio
  • Dramatis personae, instituições e terminologia alemã
  • Introdução
  • Capítulo 1: Nacional-socialismo e Pré-História: Perspectivas historiográficas
  • Capítulo 2: As origens da visão nacional-socialista do passado “germânico”: A ciência da Pré-História e o pensamento völkisch
  • Capítulo 3: Os anos 1920: Jacob-Friesen como arqueólogo antivölkisch
  • Capítulo 4: O passado como propaganda: A ciência da Pré-História no Terceiro Reich
  • Capítulo 5: A luta pela prerrogativa de interpretação: A campanha de Jacob-Friesen contra a Pré-História amadora völkisch
  • Capítulo 6: Resistência: Jacob-Friesen e a luta contra o Gleichschaltung da Pré-História
  • Capítulo 7: Acomodação: A transformação latente do cientista antivölkisch em propagandista nacional-socialista
  • Conclusões
  • Bibliografia
  • Índice remissivo
  • Obras publicadas na série

← vi | vii → Prefácio

Durante o período do nacional-socialismo na Alemanha, a ciência da Arqueologia Pré-Histórica ou, simplesmente, a Pré-História, teve uma relação íntima com o regime de Hitler e abraçou entusiasticamente sua ideologia de superioridade “germânica”. A Pré-História virou ciência de “altíssima relevância ideológica”, fundamentando a legitimidade ideológica do regime com uma visão “heroica” do passado “germânico”. A ciência e o conhecimento sobre o passado se transformaram em armas ideológicas para a mobilização da população em prol das políticas raciais e imperiais do nacional-socialismo. Os arqueólogos e pré-historiadores, membros da elite tradicional e conservadora, ofereceram os seus serviços como intelectuais e deram, por convicção política, uma contribuição muito significativa para o alcance dos objetivos do regime.

O protagonista deste livro, o pré-historiador e diretor de museu Karl Hermann Jacob-Friesen (1886–1960), foi um dos mais conceituados arqueólogos da Alemanha entre os anos 1920 e 1940. Sua simpatia pelo regime nazista era prototípica da maioria dos representantes da Pré-História alemã durante o nacional-socialismo. Entretanto, ele achou possível harmonizar a ideologia nacional-socialista com uma Pré-História científica “séria”, empírica e positivista – uma postura que o colocou em choque com os ideólogos mais ortodoxos do NSDAP. A trajetória de Jacob-Friesen durante os anos 1930 e 1940 se dividiu, portanto, em resistência ao sequestro da ciência da Pré-História pelos ideólogos nazistas simplórios, de um lado, e apoio ao nacional-socialismo, de outro, inspirado pela profunda convicção da legitimidade do regime. No balanço final, sua contribuição ao regime chegou a ter um impacto até mais significante: sua Pré-História “germânica” séria convencia mais do que os panfletos dos ideólogos barulhentos.

Este livro desdobra a biografia de Jacob-Friesen, colocando a história da disciplina acadêmica da Pré-História na Alemanha e das suas principais ideias como pano de fundo – e vice versa. Ele conjuga perspectivas da ← vii | viii → História Política e da História das Ideias e das Ciências. É fruto do meu interesse, curtido ao longo dos anos, pela história das coleções etnológicas nos museus da Alemanha, bem como sua relação com o colonialismo, e pela história do Museu Estadual na cidade de Hanôver. A trajetória do protagonista, Jacob-Friesen, que era diretor das coleções arqueológica e etnológica do museu em Hanôver, e os múltiplos vínculos históricos e interesses epistêmicos em comum entre as ciências da Pré-História e da Etnologia abriram a perspectiva das minhas pesquisas para o campo da Arqueologia Pré-Histórica.

O livro se beneficiou do grande apoio de amigos e colegas que merecem meu sincero agradecimento. Além de tudo, foram os comentários, as críticas e as sugestões feitos por Theo Harden, Estevam de Rezende Martins e Arthur Alfaix Assis e a indispensável contribuição dada por Alessandra Ramos de Oliveira Harden, Ana Terra e Marcia Lyra Nascimento Egg com a língua portuguesa que permitiram a realização deste trabalho.

← viii | ix → Dramatis personae, instituições e terminologia alemã

Pessoas

JACOB-FRIESEN, KARL HERMANN (*1886, †1960) – Pré-historiador do Museu Provincial de Hanôver a partir de 1913 e seu diretor entre 1922 e 1953. Filiou-se ao Partido Nacional-Socialista (NSDAP) em 1933. Professor da Universidade de Göttingen desde 1928 e diretor do Instituto de Pré-História da Universidade desde 1939. Opositor de Reinerth, Wirth, Teudt e Wille. Protagonista deste ensaio.

GESSNER, LUDWIG (*1886, †1958) – Político do NSDAP e Diretor de Estado da Província de Hanôver (1933–1945). Membro do NSDAP desde 1930. Ocupou diversas funções de primeiro escalão no governo provincial de Hanôver. Em 1950, foi acusado de conivência com eutanásia, mas absolvido. Superior de Jacob-Friesen na administração provincial e seu apoiador frequente.

HIMMLER, HEINRICH (*1900, †1945) – Comandante supremo da SS (Reichsführer SS) e, a partir de 1943, Ministro do Interior. Membro do NSDAP desde 1923. Como Chefe da SS e da Polícia Alemã, responsável pelo controle do Serviço de Segurança da SS, da Gestapo e do Escritório Central de Segurança do Reich (Reichssicherheitshauptamt), foi o segundo homem mais poderoso do Estado nacional-socialista. Era devoto do ideário oculto e völkisch e adorador da Pré-História germânica. Foi fundador da Ahnenerbe em 1935, com Richard Walther Darré, Ministro de Agricultura e Abastecimento do Reich, e Herman Wirth. Inicialmente, era crítico de Jacob-Friesen. A partir de 1936, Jacob-Friesen aproximou-se da SS e de Himmler. Em 1939, Himmler concedeu-lhe apoio com uma espécie de salvo-conduto.

← ix | x → KOSSINNA, GUSTAF (*1858, †1931) – Filólogo e pré-historiador. Foi um dos mais importantes representantes da Pré-História völkisch no Império Alemão e na República de Weimar. Caracterizou a Pré-História como “ciência eminentemente nacional”. Foi criador do método da “arqueologia do povoamento” (Siedlungsarchäologie) e defensor da interpretação étnica de artefatos e sítios arqueológicos. Foi precursor ideológico do nacional-socialismo e admirado por Rosenberg, Reinerth e seus seguidores, que o chamavam de “velho mestre”. Era alvo de críticas ferrenhas por parte de Jacob-Friesen nos anos 1920.

REINERTH, HANS (*1900, †1990) – Importante arqueólogo do Amt Rosenberg, adepto da doutrina de Kossinna e, em 1934, seu sucessor na Universidade Friedrich-Wilhelm, de Berlim. Editor das revistas Germanenerbe e Mannus. A partir de 1931, foi membro da Kampfbund für Deutsche Kultur (KfdK) e do NSDAP. Em 1932, tornou-se fundador e presidente do Departamento de Pré-História Alemã (Fachgruppe für Vorgeschichte) na KfdK. Em 1934, foi representante de Alfred Rosenberg na área da Pré-História alemã e dirigente do Departamento de Pré-História no Amt Rosenberg. Dirigiu a Reichsbund für Deutsche Vorgeschichte (Associação Nacional da Pré-História Alemã). Foi expulso do NSDAP em fevereiro de 1945. Era o opositor mais ferrenho de Jacob-Friesen.

RICHTHOFEN, BOLKO FREIHERR VON (*1886, †1958) – Pré-historiador e professor universitário. Entre 1929 e 1933, foi curador no Museu Etnológico de Hamburgo; entre 1933 e 1942, foi professor catedrático de Pré-História na Universidade de Königsberg e, a partir de 1942, na Universidade de Leipzig. Membro do NSDAP desde 1933, era nacional-socialista convicto. Em 1933, substituiu Jacob-Friesen como presidente da Berufsvereinigung Deutsche Vorgeschichtsforscher (Associação Profissional dos Pré-Historiadores Alemães). Foi diretor estadual da Associação Nacional da Pré-História Alemã, de Reinerth. Inicialmente, seguiu Reinerth, de quem se distanciou até o rompimento definitivo, em 1937. Membro da Ahnenerbe. Era fiel aliado de Jacob-Friesen nas disputas com Wirth e com os cientistas leigos Teudt e Wille.

ROSENBERG, ALFRED (*1892, †1946) – Principal ideólogo do NSDAP, ministro do Reich e um dos líderes do NSDAP (Reichsleiter). Foi ← x | xi → redator-chefe e editor de várias revistas nacional-socialistas. Fundou, em 1929, a Kampfbund für Deutsche Kultur (KfdK). Foi nomeado, em 1934, para a função de Beauftragter des Führers für die Überwachung der gesamten geistigen und weltanschaulichen Schulung und Erziehung der NSDAP (Encarregado do Führer para a supervisão da instrução e educação intelectual e ideológica do NSDAP). Mais tarde, desempenhou diversas funções no NSDAP e na administração pública. Foi responsável pela designação de Hans Reinerth como diretor do Departamento de Pré-História no Amt Rosenberg. Era adversário de Jacob-Friesen.

SCHROLLER, HERMANN (*1900, †1959) – Pré-historiador e farmacêutico. Era discípulo e seguidor de Reinerth. Em 1929, tornou-se assistente científico no Museu Provincial de Hanôver e, em 1935, foi nomeado curador na mesma instituição. Em 1932, juntou-se à Associação em Defesa da Cultura Alemã. Em 1933, foi nomeado encarregado do NSDAP para Pré-História na região de Hanôver-Sul-Braunschweig. Em 1934, assumiu as posições de diretor estadual em Hanôver da Associação Nacional da Pré-História Alemã, de Reinerth, de diretor da Arbeitsgemeinschaft für die Urgeschichte Nordwestdeutschlands (Associação para a Pré-História do Noroeste da Alemanha) e de redator-chefe da revista da Associação, Die Kunde. Deixou a cidade de Hanôver em 1939 para assumir posição profissional no Sudentenland. Era adversário de Jacob-Friesen no Museu Provincial.

TACKENBERG, KURT (*1899, †1992) – Pré-historiador, filiado, desde 1937, ao NSDAP. De 1929 a 1934, foi curador no Museu Provincial de Hanôver. Em 1934, foi nomeado professor universitário em Leipzig. De 1937 a 1945, ocupou a posição de diretor do Instituto de Pré-História da Universidade de Bonn. Era membro da Kampfbund für Deutsche Kultur (KfdK). Até novembro de 1933, foi seguidor de Reinerth; depois, tornou-se seu adversário e virou apoiador de Jacob-Friesen.

TEUDT, WILHELM (*1860, †1942) – Ex-pastor e pré-historiador leigo völkisch da cidade de Detmold, com longa história de participação em grupos völkisch e de extrema-direita. Interpretava o monumento natural de Externsteine como um santuário germânico pré-cristão e como ← xi | xii → manifestação da “grandeza cultural germânica”. Era apoiado por Himmler e pela Ahnenerbe. Comandava um grande grupo de seguidores na região de Detmold. Em 1938, rompeu em definitivo com Himmler. Era adversário de Jacob-Friesen, que o descrevia como “fantasista” e “lunático”.

WILLE, HERMANN (*1881, †?) – Arquiteto e pré-historiador leigo völkisch da cidade de Oldenburg, apoiado, sobretudo, por Darré, Ministro de Agricultura e Abastecimento do Reich. Distinguiu-se com publicações que consideravam os túmulos megalíticos do norte da Alemanha “templos germânicos”. Era tido como “lunático” por Jacob-Friesen e por ele combatido.

WIRTH, HERMAN (*1885, †1981) – Acadêmico völkisch da área das ciências humanas. Tinha origem holandesa e era muito popular no ambiente völkisch, mas não reconhecido pela comunidade científica acadêmica. Suas opiniões foram repudiadas e combatidas pelas ciências convencionais. Foi cofundador da Ahnenerbe, em 1935, com Himmler e Darré. Era opositor de Jacob-Friesen.

Instituições

Ahnenerbe (1935–1945) – Instituição de pesquisa da SS. Foi fundada em 1935 por Heinrich Himmler, Richard Walther Darré e Herman Wirth sob o nome de Forschungsgemeinschaft Deutsches Ahnenerbe e.V. – Studiengesellschaft für Geistesgeschichte (Fundação Alemã para o Estudo da Herança Ancestral). Fomentava estudos fortemente influenciados pelas teorias raciais nacional-socialistas e pela Pré-História völkisch, assim como pelo ocultismo de Himmler. Disputou com o Amt Rosenberg o controle da ciência da Pré-História, conseguindo conquistar a adesão da maioria dos pré-historiadores. Durante a Segunda Guerra Mundial, a instituição realizou testes letais em seres humanos. Jacob-Friesen tornou-se “membro participante” da Ahnenerbe em 1939.

Details

Pages
XVIII, 206
Year
2015
ISBN (PDF)
9783035306460
ISBN (ePUB)
9783035398670
ISBN (MOBI)
9783035398663
ISBN (Softcover)
9783034317443
DOI
10.3726/978-3-0353-0646-0
Language
Spanish; Castilian
Publication date
2014 (October)
Keywords
Legitimação ideológica Arqueologia Pré-Histórica Nacionalismo Elite intelectual Regime nazista
Published
Oxford, Bern, Berlin, Bruxelles, Frankfurt am Main, New York, Wien, 2014. XVIII, 206 p., 2 il. blanco/negro

Biographical notes

Wolfgang Döpcke (Author)

Wolfgang Döpcke é professor de História Contemporânea na Universidade de Brasília desde 1994. Ele publicou amplamente sobre a História da África Colonial e a História das Relações Internacionais da África. Nos ultimos anos, especializou-se na história da Alemanha durante o nacional-socialismo.

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